segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Treinando no Rolo por Adriano de Quadros

Amado por pouquíssimos, desprezado por outros e odiado por muitos, o rolo de treino faz parte da vida de grande parte dos triatletas, não apenas como mero acessório, mas como instrumento necessário, se não fundamental à rotina de treinamentos. Para quem gosta de pedalar pelo belo e insubstituível prazer de sair do ambiente urbano, pegar trilha ou estrada em sua magrela ao lado de outros ciclistas, evidentemente que a ideia de permanecer pedalando sozinho por qualquer tempo que seja num ambiente fechado, sem nenhum atrativo visual, quando muito com uma TV à sua frente, é prá lá de indigesta e tediosa, muito comumente associada à uma câmara de tortura. Porém, o enfoque muda completamente seu sentido, se estiver presente a necessidade de treinamento, pautada numa rotina semanal, com altas doses de disciplina, e por que não dizer, até mesmo coragem para enfrentar longos períodos pedalando na clausura.

Que a disciplina dos triatletas é algo meio “fora da casinha”, isto é inegável, basta acompanhar a rotina de treinos e horários dedicados à cada uma das três atividades que devem ser cumpridas de 3 a 4 vezes por semana, para que se ouçam palavras como maluco, insano, louco, ou coisas do gênero. Quem já se viu impossibilitado de sair da cama ao soar o alarme, tem um ligeira noção de como é árdua a tarefa de se manter a disciplina de treinos, quando seria muito mais cômodo e prazeroso permanecer debaixo das cobertas. Mas não se trata de um privilégio inato, a disciplina está muito mais relacionada com a busca de um objetivo, com um propósito. Com o tempo percebe-se que sem ela, não se atingem os resultados planejados, ou mesmo não se vê evolução no treinamento, de forma que, ou o sujeito enfrenta suas dificuldades e limitações e passa a ter disciplina, ou simplesmente as coisas não acontecem.

Ocorre que, uma vez alcançada a disciplina para a rotina dos treinos, há momentos em que, por razões diversas e alheias à nossa vontade, simplesmente não há a possibilidade de se sair para pedalar, quer seja por conta de intempéries, ou mesmo horário limitado, de forma que, quando esses fatores conspiram contra, a única opção que resta para se cumprir o treino do dia é pedalar no rolo. Falo com parcialidade, muita aliás, em defesa deste tipo de equipamento e treino. Quando voltei a pedalar depois de adulto, há uns 7 anos, comecei fazendo pequenos trechos e algumas trilhas curtas.

Aos poucos os trechos foram aumentado e fui sentindo então a necessidade de trocar de bike, fazendo upgrades, até o dia em que percebi que não era mais a bike que precisava melhorar e sim o condicionamento físico daquele que pedalava. E percebi isso da maneira mais dolorosa. Em uma das trilhas o percurso foi severamente aumentado por conta de um erro no trajeto (nos perdemos na verdade), e, não bastasse já terem sido consumidos todos os suprimentos de água e alimento, ainda estávamos muito longe do ponto de partida e com uma subida sem fim pela frente. Quando consegui chegar no trevo de entrada de Cascavel, estava com as duas pernas com câimbras insuportáveis, a ponto de deitar no chão e chamar por socorro para me levarem embora. Aquilo foi tão vergonhoso para mim, perante meus colegas de pedal, que decidi que iria treinar mais. Foi aí que, pesquisando, descobri este equipamento que acoplado à bike, poderia ser utilizado para pedalar em casa, transformando a bike praticamente numa bicicleta ergométrica, só que com marchas.

Comprei o primeiro rolo, um Tranzx magnético, que é o mais conhecido entre os adeptos, e dotado de um mecanismo com imãs que (supostamente) aumentam a resistência no pedalar. Passei a adotar uma rotina de 3 treinos por semana no rolo, mais o pedal de trilha no final de semana. Em poucos meses, fui ganhando algum condicionamento, no mínimo melhor do que eu tinha, e como consequência baixei vários dígitos na balança, de forma que aquilo que para muitos seria motivo de tortura e sofrimento, a mim enchia de satisfação.

Os anos se passaram, da bicicleta de trilhas passei para uma speed, do rolo magnético passei para o rolo triplo, daquele que você tem que se equilibrar sobre roletes, e o tombo uma hora ou outra é inevitável, como de fato foi. E, por fim, acabei chegando no modelo de rolo por fluido, que é dotado de um rotor dentro de uma câmara com fluido de silicone, de forma que este tipo de rolo, além de ser muito mais silencioso, produz uma resistência que é incrementada proporcionalmente ao aumento de velocidade, ou seja, quanto mais rápido se pedala, mais pesado fica, trazendo a experiência de esforço muito próxima do que se obtém na estrada.

Tal equipamento, aliado a softwares que fazem a leitura em tempo real da velocidade, cadência, batimentos cardíacos e potência, tornam a experiência de treinar em casa muito mais interessante no quesito monitoramento de dados e efetiva no aspecto de desempenho, além de contar com uma inúmera variedade de opções de treinos já predefinidos, segundo os mais variados critérios desejados, Tempo, Endurance, VO2max, Threshould, Anaerobic, Recovery, IF (Intensity Factor), TSS (Training Stress Score), FTP (Functional Threshould Power), etc.

Há equipamentos ainda mais sofisticados que simulam trajetos e corridas em realidade virtual, com opção multiplayer, dentre outros atrativos que se propõem em retirar o tédio e monotonia, entregando uma certa dose de emoção e competitividade neste tipo de treino. A palavra necessidade e treino foram utilizadas aqui repetidamente não sem propósito, pois qualquer atleta amador, para não se entrar num mundo ainda mais insano dos atletas profissionais, sabe que regularidade de treinos não é questão de escolha quando se tem alguma meta, tal como uma prova.

É quase que um mantra a máxima que diz que só se obtém nas provas o que se fez nos treinos. Seja por opção de treinar em casa, onde não há problema com horário, trânsito e situação climática, ou por impossibilidade de pegar estrada em razão destes mesmos fatores, o rolo de treino pode não ser o equipamento mais desejado na lista de “brinquedos” da maioria dos ciclistas e triatletas, mas uma vez incorporado à rotina, não reclama em nos proporcionar a dose diária de endorfina à custa de algumas toalhas e muito suor.

Bons Treinos!

Adriano de Quadros

Nenhum comentário:

Postar um comentário