terça-feira, 20 de outubro de 2015

Dois Anos de Triathlon - por Henrique Scotton

Tudo posso Naquele que me fortalece! Fl 4:13



Não posso deixar de citar a Bíblia pra falar sobre Triathlon, tem muito a ver na minha opinião, pois esse esporte que está se expandindo muito nos últimos anos se equivale à trajetória de Jesus Cristo, principalmente sobre abnegação, fé e amor! Também não posso deixar de agradecer a Deus e a minha família sobre tudo de maravilhoso que tem acontecido em minha vida nesses últimos 2 anos, inclusive!

O início: Bom, vamos ao que interessa: TRIATHLON 

O #nadapedalacorre “entrou na minha vida” graças ao Corpo de Bombeiros, ou melhor, foi graças à escolha que fiz de “ser um bombeiro” que me fez conhecer essa modalidade pra mim totalmente desconhecida. No início de 2013 enquanto me preparava para o TAF do concurso, voltei a nadar, bem como pedalar e correr... já em agosto do mesmo ano decidi retirar um desvio de septo nasal que me incomodava, ficando 15 dias em casa de atestado, inerte, fuçando na internet sobre vídeos esportivos e como melhorar minha técnica de natação. Foi onde apareceu um vídeo motivacional sobre o Ironman, prova de triathlon de endurance muito famosa no meio esportivo... Enfim, chega de “churumelas”... descobri que teria uma prova de triathlon em Foz do Iguaçu no dia 06 de outubro de 2013 e quando voltei a nadar, conversei com minha professora de natação Fabíola, se eu estava em condições de fazer os 750m de água, ela disse que terminar eu conseguiria. Então me inscrevi e fui pra Foz na coragem, sozinho, sem conhecer a galera do WBTT que hoje me ajudam muito. Na época conhecia apenas o Ricardo Furlan, com quem conversei sobre triathlon...
            




Resultado: ahhhhh o Lago de Itaipu, esse “monstro” me assustou um pouco, não havia treinado em águas abertas, apenas em piscina de 25m e isso atrapalhou, juntando minha inexperiência e falta de tranquilidade... nadei 300m e parei pra respirar, segurando na prancha de stand-up dos guarda-vidas que ali estavam, ou seja, fui desclassificado e “convidado” a sair da água. Porém pedi se poderia continuar e me autorizaram, após o último sair da água, então pedalei os 20km de MB e corri os 5km restantes. Foi um ótimo aprendizado e isso me instigou mais ainda a tentar de novo... porém, veio o susto: lesão!



Fase 2 – Descoberta da lesão e Escola de Bombeiros


Após o triathlon, fui investigar uma dor que me incomodava no ombro direito. Muito bem atendido pelo Dr. Carlos Tadashi, fui pra ressonância... porém eu estava tão confiante, aguardando ser chamado pra me matricular no Curso de Formação de Soldados Bombeiro Militar (havia passado em 4º lugar na 5ª região, tinha vaga garantida), não esperava tomar um “baque” tão grande como esse, talvez o maior da minha vida, jamais esquecerei esse momento. No penúltimo domingo de outubro, após concluir os 8km da corrida contra o câncer e chegar em casa orgulhoso de si mesmo, recebo uma ligação de um número estranho, quando atendo, Dr. Tadashi me passado o seu veredito da avaliação da ressonância: cirurgia!

Foi um dos piores domingos da minha vida, pior que o dia em que Ayrton Senna morreu quando eu tinha 11 anos e já viciado em corridas de carros (também)... lembro-me exatamente como se fosse ontem, estava eu em casa ainda quente das “5 milhas contra o câncer” e recebo uma notícia dessas. Meu mundo desabou, perdi o chão na hora, calcule: Esperando iniciar a escola de bombeiros, 30 anos (estourando idade pra esse tipo de concurso), havia dedicado quase 1 ano da minha vida pra virar bombeiro militar e fico sabendo que não poderei assumir por uma lesão! Mas Deus agiu em minha vida mais uma vez, estavam em casa comigo minha querida mãe, minha cunhada e meu afilhado Felipe, esse último que com apenas 2 anos completos, sentou ao meu lado no sofá (após eu ter chorado por uns 15min e contado a notícia aos prantos para meus familiares) vendo minha expressão, disse: “DINDO, NÃO CHORE, EU VOU AJUDAR VOCÊ!”

Essa frase do Felipe foi como um soco no peito, um tapa na cara me dizendo, levante homem, você não é um rato, Deus está do seu lado...



11 de novembro de 2013, 2 semanas após essa notícia e 10 dias grogue de anti-inflamatório, iniciou uma nova fase na minha vida: o temido Curso de Formação de Soldados Bombeiros Militares! Foram 10 meses de muita dedicação, abnegação, sofrimento, aprendizado, tristezas, alegrias, mas eu mesmo com minha lesão em segredo, doendo muito nos primeiros dias (confesso que em alguns momentos pensei em desistir), EU VENCI!!! Minha família e meus amigos foram essenciais nesta fase. Sou eternamente grato a todos eles por não terem se afastado de mim.

Fase 3: Bombeiro formado e entrando de cabeça, corpo 

e alma no Triathlon:





Após a Escola de Bombeiros dei um tempo nos treinamentos, mas não das provas kkkk. Fiz as Meias Maratonas de Cascavel e Toledo, Duathlon em Toledo e algumas corridas de 10km em Cascavel...Ajudou a não deixar eu perder o ritmo. Já em Agosto de 2014 eu havia assistido o Ironman 70.3 Foz do Iguaçu (1900m/90km/21km) com a galera do triathlon de Cascavel e fiz algumas amizades. Então em novembro comecei acompanhamento com o professor João Luiz Gasparini e em dezembro de 2014 abriu inscrição pro IM70.3 Foz 2015, conversando com o João sobre fazer a prova ele me deu carta branca e fui lá e não pensei duas vezes: “vou ser um Ironman”, ou meio no caso kkkk

Iniciei os treinos com o foco para a sonhada prova do dia 29 de agosto de 2015 com um pouco de relaxo ainda, principalmente na dieta. Já em fevereiro resolvi adquirir uma bike melhor para a prova, uma Cannondale Slice 5 “full carbono”, pois a GTS R5 era muito básica e não era do tamanho certo para mim! Logo em seguida, já não treinava mais com o João, conheci o Francisco Luiz Viana Neto, bombeiro e triatleta profissional de Londrina, então iniciamos uma parceria bem legal. Ainda sem levar muito a sério a dieta/suplementação, porém levando os treinos mais a risca.







Fiz algumas provas em preparação ao Iron nesse período, tais como: corridas de 10km do Sesc, meia maratona de Cascavel, Triathlon Olímpico (1500/40/10) de Guaratuba organizado pelo Heróis do Triathlon em abril e I Fuga das Marinas (2500swim + 84km bike) em maio. Esta última foi crucial e mostrou que eu precisava me preparar muito mais! Foi então que percebi que precisava de fortalecimento, então no início de junho pedi informações a alguns amigos que me indicaram o Beto da CETEAR, cara muito profissional e que conhece muito da área, trabalha com atletas renomados... isso que ajudou muito a render mais nos treinos e não ter mais “overtrainning”. Em recente reavaliação, perdi 3kg de gordura e ganhei 1kg de massa magra (17% para 14% de gordura corporal). Chegando perto da prova eu me sentia cada dia mais forte, foi crucial para eu terminar o Long Distance na Itaipu.

IRONMAN 70.3 Itaipu: 

Vou resumir essa prova tão especial, pois a prova e o relato do amigo Matheus Tonello foram muito mais emocionantes que a minha. Cheguei muito tranquilo em Foz, estava quase que sem ansiedade, cumpri as formalidades da prova e fui jantar com a galera WBTT. Acordei bem e fui pra Usina, chegando lá encontro minha família que acabara de chegar de Cascavel, com exceção de minha mãe e irmão que não puderam ir. Partimos (nós, West Bikers e familiares/expectadores) pro lado paraguaio, nos vestimos e terminamos os preparativos (e eu tranquilo, não havia mais nada com que se preocupar, até me estranhei rsss). Dada a largada, nadando por 1900m no meio de mais de 1000 tocas rosas, concentrei-me em poupar energia, mesmo porque enfrentamos muitas marolas, algumas com mais de 1m de altura. Não fiz meu melhor tempo, como na piscina, mas saí bem da água, com 48’47, fui pra transição 1 no gás total, fiquei 7’21”, deu tempo para me alimentar, passar protetor solar, passar maquiagem, cumprimentar os amigos e quase cair ao subir na bike kkkk. O ciclismo era pesado, com subidas e vento, então senti o joelho direito desde o início, porém não me preocupei muito com média, apenas em terminar, porém meu alvo era fazer abaixo de 7 horas, claro, pra ganhar as folgas e o churrasco apostado com o Capitão Zajac, nosso Cmd.do 3º SGB/4ºGB kkkk, completei os 97km em 3h17’38” (sim, a organização deu um bônus de 7km), na T2, quase me mijando no macaquinho, demorei 4’21”, melhor que a T1, mas alto para os padrões de um triathlon. 




Saí da tenda pedindo onde era o banheiro e me falaram “à direita”, fui contornando o início da corrida que era pela direita e cadê os banheiros químicos?!?!, já tinha corrido uns 500m e nada de banheiro, claro, eles tinham ficado ao lado da tenda kkkkk, parei e mijei no mato mesmo, após 1km. A corrida foi dura, com sol forte e subidas na metade pra frente, cruzei com todos os West Bikers que me deram forças, muita força mesmo, pois não pedalamos e corremos sem torcida nesta prova, toda realizada dentro da área da Usina de Itaipu. No km 10 encontrei o Iduarte de Campo Mourão, parceiro de corrida por uns 3km, ele já estava cansadão e não conseguiu segurar o mesmo pace que o meu e no fim da primeira subida falei pra ele que iria manter meu ritmo e segui em frente, conversando com outros atletas (essa é a melhor parte da prova, a interação com pessoas que você mal conhece). Corri os 21.1km em 2h10’09”, fechando 6h28’16” segundo a cronometragem oficial. Agradeci a Deus por estar ali naquele momento, por me superar mais uma vez, por vencer as dificuldades que a vida e que nós mesmos nos impomos. Simplesmente foi uma das coisas mais incríveis que fiz em vida, não me arrependo em nada e faria tudo de novo.



Fase 4: Presente e futuro

Hoje estou muito feliz com meus resultados, sinto que não sei mais viver sem o triathlon, parece que fui feito para esse esporte de desafios e superação. Não me vejo mais correndo de carros de arrancada, fazendo corridas de orientação ou qualquer outro esporte. É estranho, pois eu passei uns 10 anos da minha vida sedentário, após sair do Exército o máximo que fiz foi jogar futebol umas 2x por semana e fazer algumas corridas de orientação sem treino, correndo no máximo 8km, terminava quase morrendo. Sempre fui de enjoar fácil das atividades que não gosto ou me sentia irritado quando as coisas não davam certo, mas hoje sinto que essa “modalidade de retardados” gasta quase todas as minha energias a ponto de sempre querer renová-las e tentar tudo de novo!



O risco e dificuldade da natação, a adrenalina dos treinos de bike, somado ao desgaste das corridas de longa distância é aquele tipo de atração fatal como que os pilotos de automobilismo sentem (pois já vivi isso). Pretendo envelhecer praticando Triathlon. Espero melhorar meus índices (e muito), perder o saco de açúcar do abdome e sempre ter uma qualidade de vida, o mais essencial.



Não são poucos que me perguntam: “por que você gasta dinheiro com isso?” ou “você ganha alguma coisa nessas provas?”. Tento sempre responder da melhor forma possível, mas o principal objetivo acabei de responder acima: qualidade de vida! Nosso tempo na terra é precioso e procuro usá-lo sempre da melhor forma e considero os esportes a melhor forma, sempre ao lado da família!




Se o Triathlon é considerado um esporte de loucos: prefiro ser chamado de maluco!!!


domingo, 11 de outubro de 2015

Maratona Internacional de Foz - Relato por Fabio Fonseca


Meu desafio agora é falar de corrida, mas não uma corrida qualquer, uma maratona, isso mesmo, 42.195m de prova.

Há dois anos, eu havia prometido a um grupo de amigos, logo após estes completarem a maratona de Foz, que na próxima edição daquela corrida, eu estaria junto deles, já que eu competira  nos 11,5km, que também acontece junta à maratona;  ao ver a emoção deles ao cruzar a linha de chegada, mesmo os chamando de loucos, eu prometi que queria fazer parte desse grupo de incompreendidos que são os maratonistas.

Nesses 2 anos seguintes, algumas mudanças nos meus planos esportivos, virei triatleta, o que realmente toma mais tempo que treinos de corrida, mas mesmo assim, treinando e competindo provas de triathlon, a promessa não era esquecida. Por uma ajuda do destino, em 2014 a MARATONA INTERNACIONAL DE FOZ DO IGUAÇU não se realizou, e isso me deu um ano a mais para cumprir minha promessa.

Mas vamos lá: Como triatleta, agora eu já estava acostumado com volumes de treinos maiores, dias mais longos entre o primeiro  treino antes do trabalho, e o último do dia, após a luta diária; mas treinar uma só modalidade, com volumes tão grandes , seria pra mim a maior dificuldade, já que eu sabia que teria que abrir mão de outros treinos.

No dia 19/7 eu fiz meu último treino de bike, a partir daí o foco era a MARATONA, durante 2 meses, a corrida seria meu objetivo principal nos treinos, ainda segui nadando, mas com menores  volume e intensidade (eu chamava esses treinos de descanso) Aí foram trotes, tiros, regenerativos, fortalecimento, e religiosamente, os longões.


No dia 18/8, o último treino de natação antes da prova; o tempo estava se esgotando e eu também; não podia pecar pelo excesso, e como aí a ansiedade já está  tomando conta,  esses 40 dias seriam pra trabalhar a cabeça e enfiar nela de uma vez por todas, que nesse mês eu seria MARATONISTA,  e não triatleta.



O mês de agosto contou com 185km de corrida, e setembro com 145km (+42 que contarei a seguir).
Chegou  a semana da prova, alguns problemas de logística, mudanças na viagem, mas graças a Deus  e à Flavia, isso não me atrapalhou. O fato de ela  ter resolvido  esses percalços me manteve focado apenas na corrida, era só o que eu tinha que fazer: ir lá e correr.

Nó sábado,  viagem para Foz, direto para o sesc para a retirada dos kits, coisa rápida, e de lá para o hotel, onde as pernas deveriam ter um  descanso, já que na manhã seguinte o trabalho seria todo delas. A ansiedade só aumentava, resolvi  isso com um bom bate-papo entre amigos na beira da piscina, e entre umas cervejas. O jantar foi no hotel mesmo, cedo, pois às 22horas queria estar na cama, pois a alvorada seria às 4h da madruga.


Retirando kit

04:00h –  O despertador tocou, meus companheiros de quarto e eu nos levantamos e começamos a nos arrumar; eles (Cleyton e Fernando) estavam aparentemente mais calmos, pois fariam o revezamento, e apesar das fortes dores do Fernando, eles sabiam que era possível. Descemos para o café, e nos juntamos com o Dario, que também já estava pronto para a sua prova.

Às 05:00h partimos em direção à largada, com duas pequenas paradas: Uma para deixar o Fernando no local do revezamento, e outra para pegar o João que seguiria conosco.
Quem me conhece sabe que aí eu não estava mais no “meu normal”; as brincadeiras de sempre não tinham a mesma graça, elas nem partiam de mim, o que seria o mais habitual, mas enfim, cada um com seu foco, com seu objetivo.


Ao chegar no  sesc, ponto da largada, fui direto trocar de roupa e me pôr pronto para iniciar meu desafio, ainda faltava mais de meia hora, mas ainda tinha a conversa com os amigos, aquela que sempre rende algo de bom. No meio dos corredores mais experientes, parecia que só tinha um novato, eu;  parecia que ali todos já tinham feito aquilo, menos eu.  Ainda encontramos mais alguns integrantes da nossa equipe, a WBTT contava agora com o João, Marcus, Irving e eu. Nessa hora encontrei também vários amigos de Cascavel, sempre com um apoio, um desejo de boa sorte, e uma cara de espanto quando eu dizia que enfrentaria os 42km. Nessa hora entra na história o Paulo Sérgio Ferreira, encontrei   ele e a Rô esperando também pela largada.

Na largada com João Gasparini

Nessa hora um balde de confiança caiu sobre minha cabeça, Talvez pela presença do Paulo, talvez jogado pelo Diego ou pelo Matheus, ou por qualquer outro WBTT que tenha tentado me mostrar isso, e até então não tinha caído a ficha. Eu era capaz. Tudo pronto, começamos a nos dispersar, pois em categorias diferentes, largamos em posições diferentes. O Dario, o Paulo e eu, nos posicionamos mais a frente, pois como comerciários, temos o privilégio de largar logo atrás da elite. Bom né? Não.  A menos de 10m atrás largaria o pelotão principal, e certamente seríamos atropelados antes da primeira curva; já sabia disso, então era hora de começar colocar em prática todas as dicas recebidas antes da largada, mantive à esquerda, bem aberto e com ritmo constante, não deixei ninguém passar, mas também não atrapalhei quem o quisesse fazer.   Ritmo, o mais difícil de achar nesse inicio de prova, principalmente numa estreia, o que eu tinha era meta, era isso que eu tentava manter.

Nos primeiros 12km, o percurso de ida e volta entre o sesc e a entrada da usina de itaipu, tudo controlado, pace dentro do programado, foco na meta apesar de vários atletas passando com ritmo maior, umas seguradas às vezes eram necessárias. Fora do planejado, apenas a parada para um “pipi-stop”, já no km 8, a cerveja do dia anterior não queria fazer a prova comigo.  A beleza desse  trecho da prova ficou exclusivamente por conta dos atletas, era muito cedo, pouca gente nas ruas, e essas não tão bonitas após uma noite inteira de chuva.

Pelotão seguindo forte

Do km 12 ao 16, pelo centro de Foz, tudo normal,  minha tática em manter um pelotão com  Dario e Paulo ainda funcionava, para mim, essa tática era questão de sobrevivência dentro da prova. Enquanto a cidade acordava, e começavam a aparecer os torcedores pelas ruas, surge também nosso primeiro desafio, uma subida curta, porém muito forte, que acabava no km 17, consegui segurar bem o pace de subida, e o próximo km seria para recuperar, a vontade de socar a bota era grande, mas tinha muito chão pela frente e mais uma vez foi necessário segurar um pouco.
Próximo ao km 18, iniciou a subida de 2km, que foi até próximo ao ponto do revezamento, que marcou também a metade da minha prova. Nesse ponto é fácil se desligar um pouco da prova, pois tem corredores terminando seu desafio, tem clima de festa, tem caminhão de som, tem torcida, muita torcida. Mas tudo que é bom, dura pouco, a festa acaba, e o pior trecho, emocionalmente falando, começa.

Do km 21 até o  30, na rodovia das cataratas, o corpo ainda tinha muita força, mas a cabeça insiste em mostrar as dificuldades que estão por vir, e não o quão bom eu fui até aqui. Minha zona de conforto acabou somente no km 27.

No km 30, estava o Hotel Canzi, onde minha família, amigos  e eu, estávamos, estrategicamente, hospedados.  Aí  vem a explicação do porquê eu achar esse trecho tão emocional.  Ao passar pelo hotel, procurando minha torcida particular na sacada, não os vi, e isso significava que estavam na chegada; aí chorei pela primeira vez na prova, como ainda era um trecho em subida, dei uma engazopada, que me afastou um pouco do meu pelotão, mas esse fato também me trouxe forças pra buscá-los, e ainda entrar no PARQUE  NACIONAL  DO IGUAÇU  fazendo festa com o pessoal da organização, que tinha ali o maior ponto de hidratação e suplementação. Como aí fora a largada da prova dos 11,5km, era essa a distância que me separava da minha família, que agora tinha virado o objetivo principal. Eu já não correria os 42km pensando numa medalha, ou num tempo de prova pré-estabelecido, eu tinha que chegar lá por ELAS.

Dentro do parque,  durante os  6km onde estamos agora, meu objetivo maior era me manter junto ao Paulo e ao Dario, pois sabia que se perdesse o contato , perderia boa parte da força que vinha deles. Nesse trecho, por várias vezes eu disse a ele que podiam  seguir,  que eu diminuiria o ritmo, mas como numa briga de gato e rato, quando eles começavam a se afastar, eu acelerava e alcançava. Várias  vezes  foi assim, até fui acusado de “atacar” em uma das subidas, quando passei pelo pelotão e puxei a fila por alguns instantes.

No km 33.1, chorei de novo, como aí já estava chovendo, daria pra disfarçar bem não fossem os soluços. Esse choro também tinha motivo, em todos os meses de treinamento, essa tinha sido minha maior distância percorrida num longão, estava sendo quebrado mais um recorde pessoal.  A vá galera, é motivo suficiente né?

No km 40, mais um choro, curto; parecia que meu lado emocional já estava comemorando o dever cumprido, mas o racional engolia o choro e gritava: AINDA FALTAM   2KM.  Aí   o famoso hotel das cataratas,  limpa os olhos , procura por um fotógrafo conhecido (Leia-se Fabíola Bogo) e faz aquela cara de que está tudo bem, afinal, essa foto não poderia ficar feia.

Fazendo pose em foto de cartão postal

A partir do km 41, chega  de choros curtos, afinal eu sou MARATONISTA.  Aí   foram 1.195m de choro, ou 6 intermináveis minutos, onde passou um filme na minha cabeça, Os 2 anos da promessa, dos meses de preparação que me levaram a esse momento, e  também dos últimos 42km corridos, onde encontrei atletas de todo jeito:  os que passaram por mim e me incentivaram, os que eu passei e tentei incentivar, os que em algum momento da prova caminhavam, por lesão ou por cansaço, ou por ser uma subida forte. E principalmente aqueles atletas que não passei, nem me passaram, Dario e Paulo. Foram 42km dividindo o mesmo espaço, a mesma água, o mesmo sal.

Pelotão no 42

Enfim avisto o pórtico de chegada,  mas como disse antes, não era ele que eu procurava, eu procurava pessoas, e estavam ali, escondidas entre os cones,  nessa hora eu só não comecei a chorar novamente, pois eu ainda estava chorando desde o  41, lembram? Mas o choro aumentou bastante ao ver a Flávia, segurando, mas já soltando a Maju e a Mariana, com seus tênis de TRIATLETAS,  para o trecho da prova que realmente valeu a pena ter corrido.

Eu e as meninas correndo em direção à chegada

Foram os metros finais mais emocionantes de qualquer prova que eu já tenha corrido,  foi o único momento da prova em que me separei do meu pelotão, não saí na mesma foto que eles, mas devo muito dessa conquista a eles também. Após cruzar a linha de chegada, a primeira coisa que a Mariana fez, foi olhar pra trás, ver que tinha muita gente ainda chegando e dizer: “GANHAMOS EM PRIMEIRO”.  Alguém duvida?  Só ganhei nessa prova.

Resultado:  3h42’45”

 Eu após a chegada

   Maju, eu e Mariana na chegada

Agradecimentos:  Primeiro a Deus, por me permitir fazer o que gosto: nadar, pedalar, correr e correr uma maratona.
Segundo, à Flávia, por me permitir fazer o que gosto: nadar, pedalar, correr e correr uma maratona. E além de permitir, apoiar, incentivar e até correr junto. Obrigado. Eu te amo.

Maju, Flavia e Mariana

ÀS minhas filhas, que na última semana me mandaram um vídeo falando que aquela era a hora de eu compensar toda a falta que fiz nas noites que treinava até as 22h, ou os domingos que corria enquanto devia estar brincando com elas.
E ainda, a todos que nesses dois anos narrados, de alguma forma foram culpados por tudo isso,  Lazzari, Dario e Paulo, por terem me posto nessa.
Fernando e Cleyton por terem me acompanhado na maior parte dos treinos pra essa prova.
João Gasparini e Studio Health, por serem culpados por toda a evolução que venho alcançando no esporte.

Com a medalha

Camyla, Fabiola, Leo Nunes, Cristine e Cinthia pelas fotos.
E finalmente, especialmente e principalmente à família WBTT, esses caras nunca duvidaram de mim, alguns deles, por momentos, acreditaram mais até do que eu mesmo. Todos de alguma forma me ensinaram algo, me criticaram no que devia, duvidaram pra dar aquela inticada, Pra vocês vai o único trecho da prova que ainda não contei: EU NÃO ANDEI NEM 1 METRO SEQUER.  Isso mesmo, não caminhei em nenhum momento da prova, pois a toda hora que essa vontade vinha, eu sabia que esses seriam os metros mais lembrados por vocês nas nossas conversas futuras; não queria dar a vocês, esse gostinho. Obrigado WestBikersTriathlonTeam,  amo vocês como deve-se amar uma família. URRA.