quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Qual é o seu pace?


Hoje quero falar sobre pace.

Pace é uma palavra em inglês que pode significar, entre outras coisas, ritmo, velocidade, passo, andamento. Quando comecei a treinar corrida, em meados de 2010, deparei-me com essa palavra em todos os sites ou revistas que eu lia. No início me causou estranhamento e até me pareceu babaquice utilizar um termo em inglês para uma palavra que eu poderia usar tranquilamente em português. Depois de um tempo, comecei a me acostumar e percebi que usar o termo pace, coloca o atleta numa determinada tribo, pois só usa o termo pace aqueles corredores com um certo grau de experiência no esporte. Um corredor de fim de semana não usa o termo pace. Mas eu continuava achando babaquice. Com o passar dos anos eu percebi  que a aplicação do termo pace é inevitável, pois quem corre sabe que não dá para usar o termo velocidade na hora de falar sobre como está correndo, não funciona. Ninguém corre a uma velocidade de 5 min/km, é estranho. Ritmo seria o mais indicado. Só que aí você cai na piscina e novamente se encontra numa situação difícil, principalmente porque geralmente não se usa ritmo. Por isso, uso pace, e me sinto confortável com isso.

Quando comecei a correr, a primeira coisa com a qual me preocupei foi comprar um relógio para marcar o tempo e a frequência cardíaca. Comprei um Timex com HRM (heart rate monitor = frequencímetro) e comecei a treinar baseado em planilhas que encontrava na internet em que o foco era a frequência cardíaca. Para mim, não funcionou. Em geral, dá excelentes resultados, principalmente para aquelas pessoas que visam o emagrecimento. Temos a fat burner, que é a faixa de frequência cardíaca em que conseguimos uma otimização da queima de gordura, mas isso é assunto para um post inteiro.

Como a corrida pela frequência cardíaca não funcionou comigo, parti para novas tecnologias, e investi no Nike + Sportsband, uma pulseira da Nike que, colocando um dispositivo dentro do tênis ou amarrando no cadarço, contava o número de passos (pace) e a partir disso estimava o ritmo em que estava correndo. Eu gostava muito, mas havia alguns problemas, já que o pace que se visualizava no monitor não era o pace real daquele momento, mas sim uma média estimada. Outro problema era que se você treinasse variando muito o ritmo, ele calculava errado a distância, já que você variava muito a quantidade de passos médios. Enfim, ele era bom para rodagem e ruim para o resto tudo.

Até que conheci os relógios com GPS. Para mim, abriu-se um mundo a minha frente. Eu podia seguir rigorosamente, com pouco delay, o ritmo que colocava naquele momento; podia marcar claramente as distâncias (praticamente aposentando o mapmyrun.com) e ainda monitorava a frequência cardíaca. Fantástico!  O melhor relógio de GPS que usei até hoje para marcar pace de corrida foi o Garmin 610, ele tem uma precisão cirúrgica do pace e é todo touchscreen. Como acabei migrando para o triathlon, hoje utilizo mais o 910xt, pois ele tem a função para natação que é primordial para meus objetivos. Acostumei com ele.

O problema dos relógios e gadgets para monitoramento do ritmo é que você fica muito engessado quando se treina muito com eles a ponto de, se eu treinar sem relógio, não faço a menor ideia do ritmo que estou colocando no treino. Isso mesmo, ausência completa de conhecimento da fisiologia corporal. Outro dia fui correr no lago, uma voltinha, sem compromisso, fora da planilha e nem levei relógio. Quando terminei o treino, não fazia a menor ideia de como tinha sido, não conseguia avaliar a intensidade, nem o tempo, nem a sensação de esforço, nem a sede, nem o suor: Caramba! Eu acho fundamental para um atleta que pensa em praticar esportes de endurance a vida toda, a noção e o autoconhecimento corporal; não adianta ler dezenas de livros sobre esportes, estudar fisiologia do exercício, escrever em um blog de triathlon com os amigos, se quando dá uma voltinha no lago não faz a menor ideia de como foi o treino. Até uma criança de 10 anos sabe dizer se após uma corrida ela ficou cansada ou não, se correu forte ou não; e o tonto aqui não consegue.

Solução: jogar todos os relógios fora?


Não, claro que não. Depois de pensar muito sobre isso, ontem decidi começar a fazer algo diferente. Meu treino era 10km, em um ritmo entre 5:15 – 5:20, com pouca variação metabólica e pouca variação de altimetria. Pois bem, armado do meu 910xt, fui ao lago para as duas voltas e meia. Só que não ficava olhando para o monitor do relógio a cada 100m (como normalmente faço), eu comecei a olhar o ritmo uma vez a cada 1km (porque como sou perdidão, se estivesse no ritmo errado poderia ferrar o treino), tentando sentir como estava meu corpo, minha respiração, minha saliva, e tentei “segurar” da forma que era possível o ritmo proposto. Comecei mais lento para aquecer e a partir do km 3 iniciei o controle obsessivo do ritmo, porém sem olhar no relógio com a mesma frequência com que estou acostumado. E não é que se certa forma eu obtive êxito? Em determinado momento a minha concentração era tão grande que estava em uma espécie de transe e percebi que estava segurando a carcaça com o poder da mente. Impressionante. Abaixo os dados do meu GPS (não medi a frequência cardíaca, mas deveria ter feito).

Sempre disse e reitero, todos os bons corredores que eu conheci e convivi, tinham uma inteligência corporal acima da média. Sabiam exatamente como o corpo se comportava e respondia a cada situação e imprevisto. Depois do treino de ontem, percebi que não sou totalmente desprovido de inteligência corporal, só que ela está atrofiada, precisa ser desenvolvida e praticada. Como jogar xadrez. Talvez eu não chegue ao nível do Tutta de Ubiratã (que um dia fui treinar com ele e pedi para segurar o pace em 4:30 e o cara passava cada km em 4:30, 4:31... e em determinado momento que ficou mais lento ele virou para mim e disse, acho que estamos em 4:40 e estávamos. O cara é um Jedi! ), mas penso em pelo menos terminar um treino sabendo se foi forte ou não. Isso vai me ajudar no futuro a prever uma lesão ou dar um tempo quando estiver em overtraining, o que não consigo identificar atualmente.

O pace é importante, manter o ritmo de treinos, na velocidade como as coisas mudam na nossa vida, é uma passo muito importante para vivermos com mais saúde e mais felicidade. O triathlon também é assim. O que importa não é o quanto vivenciamos as coisas, mas sim como que isso é percebido por nós. Como uma fotografia de um belo e inspirador amanhecer no lago, que inspira e reforma, esculpindo em nós a vontade indelével de viver intensamente.

E você, vai treinar para quanto?

2 comentários:

  1. Não sei exatamente como isso aconteceu, mas, hoje, sei mais ou menos como está o meu pace quando corro. Corro com GPS, mas não o olho enquanto corro, e quando faço treino de ritmo, minha variação fica em, no máximo, 10 segundos por km. Acho que o GPS é uma grande ferramenta, mas não devemos ficar presos a ela.

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  2. Gostei de saber que você escreve um blog Matheus. Fiquei sabendo graças a Márcia Fontanella e agradeço imensamente por ter citado este humilde corredor amador no texto acima.
    Grande abraço e sucesso pra você.


    tutta-Baleias/PR
    www.correndocorridas.blogspot.com.br

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