Estou de volta. Estou obcecado por biografias. Não sei
porquê, mas no verão eu gosto de biografias e livros de esportes; intuo que
seja pelo clima de calor, que emana a vontade descontrolada de praticar
esportes. Eu só não consigo parar de ler.
A primeira vez que ouvi falar da biografia do Usain Bolt eu
não consegui levar a sério. Não é possível que seja decente! Então recebi
algumas indicações vagas, mas na prática eu sempre tive curiosidade do que se
passa na cabeça de um superatleta como Usain Bolt. Mesmo que fosse um livro
ruim, com uma história superficial e que eu lesse até a página 50 e parasse,
resolvi encarar a biografia do jamaicano.
Afinal de contas, quem não admira o Usain Bolt?
O cara é um monstro!
Já no início da leitura fiquei fascinado porque a história
começa contando como ele foi descoberto na escola, como foi o início da
carreira, sua ascensão pelas categorias mirins e isso já serviu de base para
encarar o livro. Como diria o dito popular brasileiro: uma coisa é uma coisa,
outra coisa é outra coisa. O que faz desse livro especial a ponto de eu indicar
a alguém? Garanto a vocês, tem diversos momentos do livro que são extremamente
arrepiantes. Como escrevo a simpatizantes do triathlon, corridas, ciclismo e
natação, esse livro mostra que você pode ser um gênio com uma genética absurda,
se você não vomitar na pista de atletismo, você não será ninguém no esporte.
Tem uma passagem do livro onde Usain Bolt (já campeão olímpico) recebe a visita
do seu pai que queria vê-lo treinar e o velho não conseguiu ficar até o fim
porque não aguentava ver o filho dele se destruindo daquele jeito na pista.
Mas eu não sei se vocês lerão esse livro, não diria que o
livro é essencial ou fundamental na vida de ninguém; inclusive tem umas passagens sobre festas e mulheres que realmente não são interessantes, e tem alguns aspectos da vida pessoal dele que ficam muito superficiais. Pelo entretenimento vale, mas resolvi transcrever
algumas passagens do livro que achei extremamente interessantes.
Sobre o Ponto sem Retorno
“...eu me lembrava do meu objetivo todos os dias. Se me
sentisse fraquejando em algum momento, dizia a mim mesmo: -O que mais quero?
Qual a coisa que mais quero? Mas ainda estava difícil. Havia sessões em que o
treinador dizia para fazer cada vez mais corridas de 300 metros em velocidade,
apesar de ter percorrido as faixas durante a noite toda. Meu corpo inteiro
estava morto, não consegui ficar em pé na pista e, quanto mais corria, mais
ardia e doía. Todos os meus músculos gritavam NÃO! NÃO QUERO FAZER ISSO! E era
aí que precisava ir lá no fundo, ao encontro da minha motivação.
Felizmente, o treinador tinha me ensinado uma maneira de
lidar com a dor. Ele chamava aquele enorme ataque de dor de PONTO SEM RETORNO –
um momento de pura agonia, quando o corpo diz ao atleta para parar, descansar,
porque a dor é muito grande para aguentar. Era um ponto crítico de
desequilíbrio. Ele considerava que, se o atleta fraquejasse nesse ponto, então
toda a dor que tinha sentido antes teria sido inútil, os músculos não
aumentariam sua força atual. Mas se fosse capaz de suportar o repuxo e correr
mais duas repetições, talvez três, então o corpo melhoraria fisicamente naquele
momento, e era quando o atleta se tornava mais forte. (...) A cada explosão que
eu sentia de dor, eu continuava correndo. A cada sessão de treinamento, o PONTO
SEM RETORNO tornava-se uma sensação dolorosamente familiar.”
Uma vida inteira de treinamento para apenas 10 segundos
(Jesse Owens) – Sobre a agonia dos treinamentos
“No início, me exercitei
pesado, mas pesado mesmo, em cada sessão. Tanto que muitas vezes ficava
atordoado e enjoado depois dos exercícios de pista. Colocar alguns dedos na
garganta me fazia vomitar, o que aliviava a náusea, mas vomitar não impedia que
o ácido láctico queimasse minhas pernas. Caía na pista sofrendo depois de uma
sessão de corrida intensa, os músculos das costas se retorcendo em espasmos, sonhava
com o momento em que a dor acabaria para sempre. (...) Como a maioria dos
atletas, sentia dor quase o tempo todo e todos os dias sentia uma dor depois da
outra. A academia causava dor, a corrida acelerada causava dor, os exercícios
básicos causavam dor. Tudo significava dor. Era permitido apenas um breve
descanso entre corridas, então no final de uma sessão de treinamento saía da
pista com dificuldade. Meu Deus, era demais. Uma vida inteira de treinamento
para apenas 10 segundos, mas nos meus pensamentos, a dor precisava valer a
pena. Precisava valer a pena.”
O livros traz também relatos empolgantes sobre os
bastidores, tensões e emoções por trás de cada grande evento que Usain Bolt
participou. Lendo o livro, somos capazes de compreender claramente a história
desse atleta, inclusive sua aparição ao mundo como se surgisse do nada correndo
os 100m. Na verdade seu histórico era nos 200m e 400m. Ganhou tudo nos 200m nas
categorias juniores. Começou a competir nos 100m meio que de repente e na sua
quinta corrida bateu o recorde mundial.
Impressionante! Agora vou fazer uma
coisa muito bacana, que ao ler o livro eu mesmo fiz para vivenciar melhor esses
momentos.
Trarei do youtube um vídeo, a primeira vez que bateu o
recorde mundial dos 100m em Nova Iorque em 2008..
Quebra do Primeiro Recorde Mundial dos 100m – Nova Iorque
2008
“Olha só, a sorte tem um papel importante na quebra de um
recorde mundial. Nem tudo é talento puro, embora ajude. Hoje, quando penso na
minha quinta corrida de 100m em Nova Iorque, sempre me espanto, porque ela me
firmou como um competidor importante nos Jogos Olímpicos. (..) O primeiro
movimento de sorte foi a localização. Nova Iorque era um reduto jamaicano havia
muito tempo, então quando apareci no Icahn Stadium, o lugar estava
completamente tomado. Eu tinha muita energia com que me abastecer. (...) Eu não
estava preocupado com meus recordes pessoais. Estava totalmente concentrado no
cara ao meu lado: Tyson Gay. Tyson era o cara e o campeão mundial nos 100 e
200m. Ele era forte e franco favorito. Estava correndo contra o melhor e queria
saber se era possível vencê-lo.
(...)
Eu me posicionei nos blocos. Ouvi a chama de Preparem-se.
Bangue! Larguei mal, fiquei preso nos
blocos, mas logo vi todos desacelerarem. Alguém tinha queimado a largada. A
falsa largada foi outro golpe de sorte, eu sabia. Ei, preciso reagir, disse a
mim mesmo. Bangue!, dessa vez consegui, foi a largada perfeita. Minha reação
foi suave, rápida e potente. Quando me levantei do impulso, minhas coxas e
panturrilhas ricochetearam na pista molhada, e os braços impulsionaram com
força. Depois de 30 metros, assumi a liderança e, quando espreitei de lado, não
vi Tyson. Então a coisa mais estranha aconteceu: disparei para a chegada,
sabendo que a corrida estava ganha. Simplesmente continuei correndo e correndo,
o coração na boca, as pernas mais leves do que o ar. Parecia que poderia ter
corrido mais 100 metros no mesmo ritmo. Eu estava verdadeiramente empolgado.
Então levantei a cabeça e vi o tempo: 9,72. NOVO RECORDE MUNDIAL.
Foi o caos. Minha cabeça girava, enlouqueci. Não sabia o que
sentir ou o que fazer. Deveria parar e acenar? Pular e correr como um
desvairado? Deveria me jogar no meio da multidão? Bati no peito, apontei para
os fãs e caí de joelhos, descansando a cabeça na pista. O treinador ficou
empolgado também, ele veio correndo, as pernas mais rápidas do que nunca.”
Talvez por ser a biografia de uma figura muito conhecida,
com feitos muito bem documentados e de ser muito recente, quase todo mundo
guarda uma certa memória dos fatos. Mas esse livro foi lido assim, após cada
relato, pesquisava na internet e assistia a prova em questão. Muito legal. Como
disse anteriormente, recomendo pelo entretenimento e por entender melhor a
mente de um gênio do esporte, como Pelé, Michael Jordan, Federer e outros tantos.
Boa leitura e até a próxima.
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