Iniciei o ano de 2014 participando de provas de corrida e
triathlon e, no último final de semana, encerrei com o Triathlon Olímpico de
Caiobá, prova que teve seu foco na distância olímpica, mas que também contemplou
outras modalidades, como Short Triathlon, Aquathlon, Travessia, Revezamento e
MB.
Eu fui inscrito para o Short, para cumprir as distâncias de 750
metros de natação no mar, 20km de Ciclismo na estrada Alexandra-Matinhos, e
mais 5km de Corrida, com uma meta pessoal de fechar as 3 distâncias em menos de
1 hora e 20 minutos.
Esta foi a segunda prova de triathlon que participei no ano, porém
a primeira com natação no mar, e este
fato me deixou durante vários meses, desde a inscrição, bastante apreensivo em
razão de se tratar de algo novo e desconhecido, mas não só por isso...
A primeira prova ocorreu em Foz do Iguaçu em junho, onde estreei no
esporte, porém em razão da ansiedade e total falta de experiência, acabei fazendo
a natação de forma bem desastrosa, pois saí na largada com todo gás sem me dar
conta disso, envolvido pelo ritmo dos demais atletas, o que fez com que eu
parasse logo após os 100 primeiros metros absolutamente sem fôlego, engolindo
água e tomando braçadas dos demais que passavam por mim. Sem conseguir me
recuperar da afobação da largada, terminei a natação a grande custo de esforço,
prejudicando o ciclismo e a corrida, fato este que me deixou, digamos, com um certo
trauma e insegurança quanto à natação... enfim, coisa de principiante, diria
qualquer um mais experiente...
Sempre gostei de água, nado em academia já há alguns anos, mas é
interessante como um ambiente desconhecido acaba por nos provocar uma obstáculo
mental, que se não for trabalhado e enfrentado devidamente pode virar uma verdadeira
fobia. Em razão dessa experiência, a prova de Caiobá estava para mim tanto como
meta de primeira prova de nível mais competitivo no mar, quanto para superar a
insegurança na natação.
Junto com dois amigos da equipe West Bikers Triathlon Team, Diego
Bavaresco e Matheus Tonello, atletas bem mais experientes e que estavam
inscritos para a modalidade Olímpica, chegamos na sexta-feira em Caiobá, onde o
“circo” do Triathlon já começava ser armado. Tivemos o prazer de encontrar logo
na chegada no Hotel, o grande Luis Iran, triatleta apaixonado pelo esporte que
organiza e realiza o circuito de Triathlon Olímpico todos os anos no Paraná, e que
já na recepção do Hotel registrou nossa chegada.
Ao longo da sexta e sábado, vimos dezenas de atletas que ali
também chegavam para se hospedar com seus familiares e suas incríveis bikes. Sábado
pela manhã uma corridinha leve na praia pra soltar os músculos (pra quem não
ficou dormindo no hotel, porque a planilha de treinos disse que era day-off, kkkkkk), mais tarde um passeio
de bike, para sentir se as marchas estavam todas em ordem.
Depois almoço, hotel, e voltinha na praia pra ver o movimento (na
sombra de uma árvore abençoada, porque o calor estava de rachar...)
A noite jantar de massas, tradicional na véspera de provas, e depois
organizar o equipamento para deixar tudo pronto para a manhã seguinte, que
começava cedo, antes das 6hs.
Esse último check list e
organização de equipamentos é algo que só quem participa do esporte para
dimensionar a quantidade de apetrechos que se leva para uma prova de triathlon:
Roupa de natação, touca de borracha, óculos de natação, relógio GPS (pra quem é
aficionado por números e dados, via de regra, quase todo triatleta), bike (pode
parecer piada, mas tem gente que esquece de levar a bike! Kkkk), garrafa de
água para a bike, câmara reserva, bomba ou cápsula de CO2 (para encher o pneu),
gel de carboidrato (um para cada 30 ou 40min de prova, ou batata doce, conforme
o gosto do sujeito), capacete, óculos solar, protetor solar, sapatilha da bike,
placa com número para a bike, número de peito, cinta para fixar o número, tênis
para a corrida, meia, chip de cronometragem para fixar no tênis, viseira,
pulseira do evento para entrada nas áreas de transição, mochila ou sacola para
acomodar quase tudo isso... digamos que é o básico para atletas homens... para
as mulheres eu não quero nem imaginar a quantidade a mais de acessórios...
kkkkk
Toca o despertador 5:45 e eu já estava acordado desde as 5hs....
Ansioso???? Nãaoooo...
Um café da manhã reforçado, mas sem exagero para não gerar algum
inconveniente durante a prova... juntamos as tralhas e fomos para o evento.
Uma fila de uns 200 metros de atletas com suas bikes aguardando a
entrada na área de transição, e continuavam chegando mais de todas as esquinas,
algo que realmente nos envolve no clima da prova. Mas a fila andou rápido, logo
passaram vários integrantes da organização pintando os números no braço e na
panturrilha de cada um enquanto íamos nos encaminhando para o cercado das bikes
e transição.
Deixada a bike no cavalete, capacete, óculos, etc..., deu tempo de
dar uma respirada e observar o envolvimento dos demais... meu vizinho de
cavalete, que por coincidência conheci na recepção do hotel e contou que
estreava no triathlon naquele dia, segurava o guidão da bike com os olhos fechados
e cabeça baixa, num momento de introspecção que me contagiou e me deixou mais
tranquilo.... por alguns minutos.
Nos reunimos e fomos para a praia aguardar a largada. Um rápido
aquecimento na areia, eis que nos chamam para a primeira largada. Um último
cumprimento aos amigos e um grito pra aliviar a tensão...
Procurei me concentrar o máximo em largar calmo, braçadas longas,
eu pensava, braçadas longas.... toca a sirene rapidamente, sem contagem
regressiva, começou!!!! Corre, corre, uns 30 metros de areia até a água, calma!
Calma!... sequer senti a temperatura da água, agora que escrevo e tentando
lembrar do momento.... Quando me dei conta estava já nadando, por uma fração de
segundo uma sensação desconfortável ao engolir um pouco de água, procurei
manter o controle mental, respiração, calma, braçadas longas... braçadas
longas....
Aos poucos fui entrando no ritmo e me sentindo mais a vontade,
muito próximo do que costumo sentir ao nadar na academia, vibrou o relógio ao
passar 250 metros.... uma sensação boa de equilíbrio... procurei a boia de
retorno para verificar minha posição, percebi que estava “barrigando”, saindo
da trajetória, fui corrigindo a cada 5 ou 10 braçadas, com puxadas mais fortes
do braço direito... a boia de retorno parecia ainda longe. Constantemente tocava
o braço ou os pés de algum atleta que eu me aproximava, outros também
esbarravam em mim, mas nada que fosse similar à “pancadaria” que já ouvi falar
que ocorre em uma prova de Ironman.
De repente chegou a boia do retorno, estava bem, a insegurança havia
passado, aquela ansiedade toda não se justificou, agora já pensava em chegar na
areia... mais alguns minutos, logo vibrou o toque de 500 metros, continuei
sempre corrigindo o trajeto que insistia em me conduzir para a esquerda, não
forcei o ritmo, minha meta era concluir a natação, o relógio vibrou novamente
aos 750 metros, olhei para a areia ainda faltavam uns 100 metros... já pensava
na bike, ali que eu me sinto bem, tá quase, tá quase.... senti minha mão tocar
a areia, levantei, olhei o relógio, 16’30”, pensei, tá bom, tá bom... consegui,
consegui... a sensação de superação foi indescritível, etapa cumprida, UFA!!!
O trecho da areia até onde se encontravam as bikes era longo,
cerca de 400 metros, o que foi suficiente para começar a focar no pedal. Capacete,
óculos, bike, só isso! Bora! Corre! Passado o tapete da chipagem montei na
bike, fui ajustando a sapatilha e acostumando as pernas enquanto saía da área
urbana, muitas lombadas, acelerando o ritmo, e encontrando a marcha adequada.
Passadas 2.583 lombadas (exagero), eram muitas!!! chega a estrada
Alexandra – Matinhos, pensei, agora é a hora da verdade, bastante trafego,
muitos atletas congestionando a pista e outros já voltando no sentido contrário,
não parei de pedalar um único segundo, quando sentia as pernas “queimarem”,
passava uma marcha acima e aumentava a cadência por alguns momentos e logo
acelerava de novo... Logo estava com 35,2Km/h de média no relógio e procurei
manter esse ritmo. Tinha ficado tão focado em pedalar que esqueci de tomar água.
Acelerei mais um pouco e já estava de volta às lombadas, pensei, agora é só
administrar e me preparar para a corrida.
Feita a transição, saí para a corrida, mas já de cara senti que
tinha exagerado na bike e não ia render na corrida o quanto tinha planejado.
Tinha conseguido reduzir meu pace de corrida ao longo do ano, e me sentia
confiante de que conseguiria fechar os 5km da corrida de 22 a 23 minutos. Mas
percebi que não seria possível, tentei manter o ritmo que imaginava estar muito
lento, não quis olhar no relógio para não me frustrar ainda mais... de repente
tocou o alarme de 1km, olhei o pace, estava em 4’40”/km, surpresa!! Não estava
dentro do meu planejado, mas também não era ruim, já que meu alvo era 4’30”.
Mas não conseguia acelerar, levei até o km 3 nesse ritmo, no km 4 consegui forçar
um pouco e no km 5 fui no limite máximo, fechando o trecho em 23’30”, e a prova
total com 1h18’52”. Meta alcançada!
Logo depois do pórtico da chegada recebi minha medalha de Finisher e fui pegar água e frutas com a
organização, que estava perfeita em toda a prova. Recuperado o fôlego, pensei
em voltar para a área de transição para torcer pelos meus amigos que deveriam
estar chegando do percurso da bike para passarem para a corrida.
Enquanto saía da areia, olhei para a medalha, minha mão começou a
tremer e não pude conter a emoção.
Fechei o ano com chave de ouro, conquistando o 7º lugar na minha
categoria numa prova muito competitiva, o que considero um feito incrível em
termos de realização pessoal, tendo em vista o pouco tempo no esporte.
Foram 265 horas de treino, 166 mil calorias queimadas e mais de 4
mil Km percorridos em corridas, pedal, natação, além da musculação, o que
resultou em 4 kg a menos na balança e redução de gordura corporal de 17,5% para
14%, representando um ganho considerável em condicionamento e saúde.
Mas a maior vitória foi a superação dos adversários mentais, o
medo e a insegurança; o ganho com a disciplina nos treinos a dedicação e o
foco, conquistas estas que só se tornaram possíveis em razão do apoio
incondicional de minha esposa, sem contar a inefável reação de meus queridos
filhos ao compartilharem a conquista de mais uma medalha. Isso não tem preço.
Adriano de Quadros.
Fotos de Caiobá. Rafael Dalalana OFF SHOT
parabenssssssssss, estou iniciando no esporte tbm, motivação total. abraço
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