terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Relato do Triathlon de Caiobá - Triativa por Adriano de Quadros

Iniciei o ano de 2014 participando de provas de corrida e triathlon e, no último final de semana, encerrei com o Triathlon Olímpico de Caiobá, prova que teve seu foco na distância olímpica, mas que também contemplou outras modalidades, como Short Triathlon, Aquathlon, Travessia, Revezamento e MB.
Eu fui inscrito para o Short, para cumprir as distâncias de 750 metros de natação no mar, 20km de Ciclismo na estrada Alexandra-Matinhos, e mais 5km de Corrida, com uma meta pessoal de fechar as 3 distâncias em menos de 1 hora e 20 minutos.
Esta foi a segunda prova de triathlon que participei no ano, porém a primeira com natação no mar, e  este fato me deixou durante vários meses, desde a inscrição, bastante apreensivo em razão de se tratar de algo novo e desconhecido, mas não só por isso...
A primeira prova ocorreu em Foz do Iguaçu em junho, onde estreei no esporte, porém em razão da ansiedade e total falta de experiência, acabei fazendo a natação de forma bem desastrosa, pois saí na largada com todo gás sem me dar conta disso, envolvido pelo ritmo dos demais atletas, o que fez com que eu parasse logo após os 100 primeiros metros absolutamente sem fôlego, engolindo água e tomando braçadas dos demais que passavam por mim. Sem conseguir me recuperar da afobação da largada, terminei a natação a grande custo de esforço, prejudicando o ciclismo e a corrida, fato este que me deixou, digamos, com um certo trauma e insegurança quanto à natação... enfim, coisa de principiante, diria qualquer um mais experiente...


Sempre gostei de água, nado em academia já há alguns anos, mas é interessante como um ambiente desconhecido acaba por nos provocar uma obstáculo mental, que se não for trabalhado e enfrentado devidamente pode virar uma verdadeira fobia. Em razão dessa experiência, a prova de Caiobá estava para mim tanto como meta de primeira prova de nível mais competitivo no mar, quanto para superar a insegurança na natação.
Junto com dois amigos da equipe West Bikers Triathlon Team, Diego Bavaresco e Matheus Tonello, atletas bem mais experientes e que estavam inscritos para a modalidade Olímpica, chegamos na sexta-feira em Caiobá, onde o “circo” do Triathlon já começava ser armado. Tivemos o prazer de encontrar logo na chegada no Hotel, o grande Luis Iran, triatleta apaixonado pelo esporte que organiza e realiza o circuito de Triathlon Olímpico todos os anos no Paraná, e que já na recepção do Hotel registrou nossa chegada.


Ao longo da sexta e sábado, vimos dezenas de atletas que ali também chegavam para se hospedar com seus familiares e suas incríveis bikes. Sábado pela manhã uma corridinha leve na praia pra soltar os músculos (pra quem não ficou dormindo no hotel, porque a planilha de treinos disse que era day-off, kkkkkk), mais tarde um passeio de bike, para sentir se as marchas estavam todas em ordem.


Depois almoço, hotel, e voltinha na praia pra ver o movimento (na sombra de uma árvore abençoada, porque o calor estava de rachar...)


A noite jantar de massas, tradicional na véspera de provas, e depois organizar o equipamento para deixar tudo pronto para a manhã seguinte, que começava cedo, antes das 6hs.


Esse último check list e organização de equipamentos é algo que só quem participa do esporte para dimensionar a quantidade de apetrechos que se leva para uma prova de triathlon: Roupa de natação, touca de borracha, óculos de natação, relógio GPS (pra quem é aficionado por números e dados, via de regra, quase todo triatleta), bike (pode parecer piada, mas tem gente que esquece de levar a bike! Kkkk), garrafa de água para a bike, câmara reserva, bomba ou cápsula de CO2 (para encher o pneu), gel de carboidrato (um para cada 30 ou 40min de prova, ou batata doce, conforme o gosto do sujeito), capacete, óculos solar, protetor solar, sapatilha da bike, placa com número para a bike, número de peito, cinta para fixar o número, tênis para a corrida, meia, chip de cronometragem para fixar no tênis, viseira, pulseira do evento para entrada nas áreas de transição, mochila ou sacola para acomodar quase tudo isso... digamos que é o básico para atletas homens... para as mulheres eu não quero nem imaginar a quantidade a mais de acessórios... kkkkk
Toca o despertador 5:45 e eu já estava acordado desde as 5hs.... Ansioso???? Nãaoooo...
Um café da manhã reforçado, mas sem exagero para não gerar algum inconveniente durante a prova... juntamos as tralhas e fomos para o evento.
Uma fila de uns 200 metros de atletas com suas bikes aguardando a entrada na área de transição, e continuavam chegando mais de todas as esquinas, algo que realmente nos envolve no clima da prova. Mas a fila andou rápido, logo passaram vários integrantes da organização pintando os números no braço e na panturrilha de cada um enquanto íamos nos encaminhando para o cercado das bikes e transição.


Deixada a bike no cavalete, capacete, óculos, etc..., deu tempo de dar uma respirada e observar o envolvimento dos demais... meu vizinho de cavalete, que por coincidência conheci na recepção do hotel e contou que estreava no triathlon naquele dia, segurava o guidão da bike com os olhos fechados e cabeça baixa, num momento de introspecção que me contagiou e me deixou mais tranquilo.... por alguns minutos.


Nos reunimos e fomos para a praia aguardar a largada. Um rápido aquecimento na areia, eis que nos chamam para a primeira largada. Um último cumprimento aos amigos e um grito pra aliviar a tensão...


Procurei me concentrar o máximo em largar calmo, braçadas longas, eu pensava, braçadas longas.... toca a sirene rapidamente, sem contagem regressiva, começou!!!! Corre, corre, uns 30 metros de areia até a água, calma! Calma!... sequer senti a temperatura da água, agora que escrevo e tentando lembrar do momento.... Quando me dei conta estava já nadando, por uma fração de segundo uma sensação desconfortável ao engolir um pouco de água, procurei manter o controle mental, respiração, calma, braçadas longas... braçadas longas....


Aos poucos fui entrando no ritmo e me sentindo mais a vontade, muito próximo do que costumo sentir ao nadar na academia, vibrou o relógio ao passar 250 metros.... uma sensação boa de equilíbrio... procurei a boia de retorno para verificar minha posição, percebi que estava “barrigando”, saindo da trajetória, fui corrigindo a cada 5 ou 10 braçadas, com puxadas mais fortes do braço direito... a boia de retorno parecia ainda longe. Constantemente tocava o braço ou os pés de algum atleta que eu me aproximava, outros também esbarravam em mim, mas nada que fosse similar à “pancadaria” que já ouvi falar que ocorre em uma prova de Ironman.


De repente chegou a boia do retorno, estava bem, a insegurança havia passado, aquela ansiedade toda não se justificou, agora já pensava em chegar na areia... mais alguns minutos, logo vibrou o toque de 500 metros, continuei sempre corrigindo o trajeto que insistia em me conduzir para a esquerda, não forcei o ritmo, minha meta era concluir a natação, o relógio vibrou novamente aos 750 metros, olhei para a areia ainda faltavam uns 100 metros... já pensava na bike, ali que eu me sinto bem, tá quase, tá quase.... senti minha mão tocar a areia, levantei, olhei o relógio, 16’30”, pensei, tá bom, tá bom... consegui, consegui... a sensação de superação foi indescritível, etapa cumprida, UFA!!!


O trecho da areia até onde se encontravam as bikes era longo, cerca de 400 metros, o que foi suficiente para começar a focar no pedal. Capacete, óculos, bike, só isso! Bora! Corre! Passado o tapete da chipagem montei na bike, fui ajustando a sapatilha e acostumando as pernas enquanto saía da área urbana, muitas lombadas, acelerando o ritmo, e encontrando a marcha adequada.


Passadas 2.583 lombadas (exagero), eram muitas!!! chega a estrada Alexandra – Matinhos, pensei, agora é a hora da verdade, bastante trafego, muitos atletas congestionando a pista e outros já voltando no sentido contrário, não parei de pedalar um único segundo, quando sentia as pernas “queimarem”, passava uma marcha acima e aumentava a cadência por alguns momentos e logo acelerava de novo... Logo estava com 35,2Km/h de média no relógio e procurei manter esse ritmo. Tinha ficado tão focado em pedalar que esqueci de tomar água. Acelerei mais um pouco e já estava de volta às lombadas, pensei, agora é só administrar e me preparar para a corrida.
Feita a transição, saí para a corrida, mas já de cara senti que tinha exagerado na bike e não ia render na corrida o quanto tinha planejado. Tinha conseguido reduzir meu pace de corrida ao longo do ano, e me sentia confiante de que conseguiria fechar os 5km da corrida de 22 a 23 minutos. Mas percebi que não seria possível, tentei manter o ritmo que imaginava estar muito lento, não quis olhar no relógio para não me frustrar ainda mais... de repente tocou o alarme de 1km, olhei o pace, estava em 4’40”/km, surpresa!! Não estava dentro do meu planejado, mas também não era ruim, já que meu alvo era 4’30”. Mas não conseguia acelerar, levei até o km 3 nesse ritmo, no km 4 consegui forçar um pouco e no km 5 fui no limite máximo, fechando o trecho em 23’30”, e a prova total com 1h18’52”. Meta alcançada!
Logo depois do pórtico da chegada recebi minha medalha de Finisher e fui pegar água e frutas com a organização, que estava perfeita em toda a prova. Recuperado o fôlego, pensei em voltar para a área de transição para torcer pelos meus amigos que deveriam estar chegando do percurso da bike para passarem para a corrida.
Enquanto saía da areia, olhei para a medalha, minha mão começou a tremer e não pude conter a emoção.


Fechei o ano com chave de ouro, conquistando o 7º lugar na minha categoria numa prova muito competitiva, o que considero um feito incrível em termos de realização pessoal, tendo em vista o pouco tempo no esporte.
Foram 265 horas de treino, 166 mil calorias queimadas e mais de 4 mil Km percorridos em corridas, pedal, natação, além da musculação, o que resultou em 4 kg a menos na balança e redução de gordura corporal de 17,5% para 14%, representando um ganho considerável em condicionamento e saúde.
Mas a maior vitória foi a superação dos adversários mentais, o medo e a insegurança; o ganho com a disciplina nos treinos a dedicação e o foco, conquistas estas que só se tornaram possíveis em razão do apoio incondicional de minha esposa, sem contar a inefável reação de meus queridos filhos ao compartilharem a conquista de mais uma medalha. Isso não tem preço.

Adriano de Quadros.

Fotos de Caiobá. Rafael Dalalana OFF SHOT

Um comentário:

  1. parabenssssssssss, estou iniciando no esporte tbm, motivação total. abraço

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