Meu desafio agora é falar de
corrida, mas não uma corrida qualquer, uma maratona, isso mesmo, 42.195m de
prova.
Há dois anos, eu havia prometido
a um grupo de amigos, logo após estes completarem a maratona de Foz, que na
próxima edição daquela corrida, eu estaria junto deles, já que eu
competira nos 11,5km, que também
acontece junta à maratona; ao ver a
emoção deles ao cruzar a linha de chegada, mesmo os chamando de loucos, eu
prometi que queria fazer parte desse grupo de incompreendidos que são os
maratonistas.
Nesses 2 anos seguintes, algumas
mudanças nos meus planos esportivos, virei triatleta, o que realmente toma mais
tempo que treinos de corrida, mas mesmo assim, treinando e competindo provas de
triathlon, a promessa não era esquecida. Por uma ajuda do destino, em 2014 a
MARATONA INTERNACIONAL DE FOZ DO IGUAÇU não se realizou, e isso me deu um ano a
mais para cumprir minha promessa.
Mas vamos lá: Como triatleta, agora
eu já estava acostumado com volumes de treinos maiores, dias mais longos entre
o primeiro treino antes do trabalho, e o
último do dia, após a luta diária; mas treinar uma só modalidade, com volumes
tão grandes , seria pra mim a maior dificuldade, já que eu sabia que teria que
abrir mão de outros treinos.
No dia 19/7 eu fiz meu último
treino de bike, a partir daí o foco era a MARATONA, durante 2 meses, a corrida
seria meu objetivo principal nos treinos, ainda segui nadando, mas com menores volume e intensidade (eu chamava esses treinos
de descanso) Aí foram trotes, tiros, regenerativos, fortalecimento, e
religiosamente, os longões.
No dia 18/8, o último treino de
natação antes da prova; o tempo estava se esgotando e eu também; não podia
pecar pelo excesso, e como aí a ansiedade já está tomando conta, esses 40 dias seriam pra trabalhar a cabeça e
enfiar nela de uma vez por todas, que nesse mês eu seria MARATONISTA, e não triatleta.
O mês de agosto contou com 185km
de corrida, e setembro com 145km (+42 que contarei a seguir).
Chegou a semana da prova, alguns problemas de
logística, mudanças na viagem, mas graças a Deus e à Flavia, isso não me atrapalhou. O fato de
ela ter resolvido esses percalços me manteve focado apenas na
corrida, era só o que eu tinha que fazer: ir lá e correr.
Nó sábado, viagem para Foz, direto para o sesc para a
retirada dos kits, coisa rápida, e de lá para o hotel, onde as pernas deveriam
ter um descanso, já que na manhã seguinte
o trabalho seria todo delas. A ansiedade só aumentava, resolvi isso com um bom bate-papo entre amigos na
beira da piscina, e entre umas cervejas. O jantar foi no hotel mesmo, cedo,
pois às 22horas queria estar na cama, pois a alvorada seria às 4h da madruga.
Retirando kit
04:00h – O despertador tocou, meus companheiros de
quarto e eu nos levantamos e começamos a nos arrumar; eles (Cleyton e Fernando)
estavam aparentemente mais calmos, pois fariam o revezamento, e apesar das
fortes dores do Fernando, eles sabiam que era possível. Descemos para o café, e
nos juntamos com o Dario, que também já estava pronto para a sua prova.
Às 05:00h partimos em direção à
largada, com duas pequenas paradas: Uma para deixar o Fernando no local do
revezamento, e outra para pegar o João que seguiria conosco.
Quem me conhece sabe que aí eu
não estava mais no “meu normal”; as brincadeiras de sempre não tinham a mesma
graça, elas nem partiam de mim, o que seria o mais habitual, mas enfim, cada um
com seu foco, com seu objetivo.
Ao chegar no sesc, ponto da largada, fui direto trocar de
roupa e me pôr pronto para iniciar meu desafio, ainda faltava mais de meia
hora, mas ainda tinha a conversa com os amigos, aquela que sempre rende algo de
bom. No meio dos corredores mais experientes, parecia que só tinha um novato,
eu; parecia que ali todos já tinham
feito aquilo, menos eu. Ainda encontramos
mais alguns integrantes da nossa equipe, a WBTT contava agora com o João,
Marcus, Irving e eu. Nessa hora encontrei também vários amigos de Cascavel,
sempre com um apoio, um desejo de boa sorte, e uma cara de espanto quando eu
dizia que enfrentaria os 42km. Nessa hora entra na história o Paulo Sérgio
Ferreira, encontrei ele e a Rô esperando também pela largada.
Na largada com João Gasparini
Nessa hora um balde de confiança
caiu sobre minha cabeça, Talvez pela presença do Paulo, talvez jogado pelo
Diego ou pelo Matheus, ou por qualquer outro WBTT que tenha tentado me mostrar
isso, e até então não tinha caído a ficha. Eu era capaz. Tudo pronto, começamos
a nos dispersar, pois em categorias diferentes, largamos em posições
diferentes. O Dario, o Paulo e eu, nos posicionamos mais a frente, pois como
comerciários, temos o privilégio de largar logo atrás da elite. Bom né?
Não. A menos de 10m atrás largaria o
pelotão principal, e certamente seríamos atropelados antes da primeira curva;
já sabia disso, então era hora de começar colocar em prática todas as dicas
recebidas antes da largada, mantive à esquerda, bem aberto e com ritmo
constante, não deixei ninguém passar, mas também não atrapalhei quem o quisesse
fazer. Ritmo, o mais difícil de achar
nesse inicio de prova, principalmente numa estreia, o que eu tinha era meta,
era isso que eu tentava manter.
Nos primeiros 12km, o percurso de
ida e volta entre o sesc e a entrada da usina de itaipu, tudo controlado, pace dentro do programado, foco na meta
apesar de vários atletas passando com ritmo maior, umas seguradas às vezes eram
necessárias. Fora do planejado, apenas a parada para um “pipi-stop”, já no km
8, a cerveja do dia anterior não queria fazer a prova comigo. A beleza desse trecho da prova ficou exclusivamente por conta dos
atletas, era muito cedo, pouca gente nas ruas, e essas não tão bonitas após uma
noite inteira de chuva.
Pelotão seguindo forte
Do km 12 ao 16, pelo centro de
Foz, tudo normal, minha tática em manter
um pelotão com Dario e Paulo ainda
funcionava, para mim, essa tática era questão de sobrevivência dentro da prova.
Enquanto a cidade acordava, e começavam a aparecer os torcedores pelas ruas,
surge também nosso primeiro desafio, uma subida curta, porém muito forte, que
acabava no km 17, consegui segurar bem o pace
de subida, e o próximo km seria para recuperar, a vontade de socar a bota era
grande, mas tinha muito chão pela frente e mais uma vez foi necessário segurar
um pouco.
Próximo ao km 18, iniciou a
subida de 2km, que foi até próximo ao ponto do revezamento, que marcou também a
metade da minha prova. Nesse ponto é fácil se desligar um pouco da prova, pois
tem corredores terminando seu desafio, tem clima de festa, tem caminhão de som,
tem torcida, muita torcida. Mas tudo que é bom, dura pouco, a festa acaba, e o
pior trecho, emocionalmente falando, começa.
Do km 21 até o 30, na rodovia das cataratas, o corpo ainda
tinha muita força, mas a cabeça insiste em mostrar as dificuldades que estão
por vir, e não o quão bom eu fui até aqui. Minha zona de conforto acabou
somente no km 27.
No km 30, estava o Hotel Canzi,
onde minha família, amigos e eu,
estávamos, estrategicamente, hospedados.
Aí vem a explicação do porquê eu
achar esse trecho tão emocional. Ao
passar pelo hotel, procurando minha torcida particular na sacada, não os vi, e
isso significava que estavam na chegada; aí chorei pela primeira vez na prova,
como ainda era um trecho em subida, dei uma engazopada, que me afastou um pouco
do meu pelotão, mas esse fato também me trouxe forças pra buscá-los, e ainda
entrar no PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU
fazendo festa com o pessoal da organização, que tinha ali o maior ponto
de hidratação e suplementação. Como aí fora a largada da prova dos 11,5km, era
essa a distância que me separava da minha família, que agora tinha virado o
objetivo principal. Eu já não correria os 42km pensando numa medalha, ou num
tempo de prova pré-estabelecido, eu tinha que chegar lá por ELAS.
Dentro do parque, durante os
6km onde estamos agora, meu objetivo maior era me manter junto ao Paulo
e ao Dario, pois sabia que se perdesse o contato , perderia boa parte da força
que vinha deles. Nesse trecho, por várias vezes eu disse a ele que podiam seguir, que eu diminuiria o ritmo, mas como numa briga
de gato e rato, quando eles começavam a se afastar, eu acelerava e alcançava.
Várias vezes foi assim, até fui acusado de “atacar” em uma
das subidas, quando passei pelo pelotão e puxei a fila por alguns instantes.
No km 33.1, chorei de novo, como
aí já estava chovendo, daria pra disfarçar bem não fossem os soluços. Esse
choro também tinha motivo, em todos os meses de treinamento, essa tinha sido
minha maior distância percorrida num longão, estava sendo quebrado mais um
recorde pessoal. A vá galera, é motivo
suficiente né?
No km 40, mais um choro, curto;
parecia que meu lado emocional já estava comemorando o dever cumprido, mas o
racional engolia o choro e gritava: AINDA FALTAM 2KM. Aí o famoso hotel das cataratas, limpa os olhos , procura por um fotógrafo
conhecido (Leia-se Fabíola Bogo) e faz aquela cara de que está tudo bem,
afinal, essa foto não poderia ficar feia.
Fazendo pose em foto de cartão postal
A partir do km 41, chega de choros curtos, afinal eu sou
MARATONISTA. Aí foram
1.195m de choro, ou 6 intermináveis minutos, onde passou um filme na minha
cabeça, Os 2 anos da promessa, dos meses de preparação que me levaram a esse
momento, e também dos últimos 42km
corridos, onde encontrei atletas de todo jeito: os que passaram por mim e me incentivaram, os
que eu passei e tentei incentivar, os que em algum momento da prova caminhavam,
por lesão ou por cansaço, ou por ser uma subida forte. E principalmente aqueles
atletas que não passei, nem me passaram, Dario e Paulo. Foram 42km dividindo o mesmo
espaço, a mesma água, o mesmo sal.
Pelotão no 42
Enfim avisto o pórtico de
chegada, mas como disse antes, não era
ele que eu procurava, eu procurava pessoas, e estavam ali, escondidas entre os
cones, nessa hora eu só não comecei a
chorar novamente, pois eu ainda estava chorando desde o 41, lembram? Mas o choro aumentou bastante ao
ver a Flávia, segurando, mas já soltando a Maju e a Mariana, com seus tênis de
TRIATLETAS, para o trecho da prova que
realmente valeu a pena ter corrido.
Eu e as meninas correndo em direção à chegada
Foram os metros finais mais emocionantes de
qualquer prova que eu já tenha corrido,
foi o único momento da prova em que me separei do meu pelotão, não saí
na mesma foto que eles, mas devo muito dessa conquista a eles também. Após
cruzar a linha de chegada, a primeira coisa que a Mariana fez, foi olhar pra
trás, ver que tinha muita gente ainda chegando e dizer: “GANHAMOS EM
PRIMEIRO”. Alguém duvida? Só ganhei nessa prova.
Resultado: 3h42’45”
Eu após a chegada
Maju, eu e Mariana na chegada
Agradecimentos: Primeiro a Deus, por me permitir fazer o que
gosto: nadar, pedalar, correr e correr uma maratona.
Segundo, à Flávia, por me
permitir fazer o que gosto: nadar, pedalar, correr e correr uma maratona. E
além de permitir, apoiar, incentivar e até correr junto. Obrigado. Eu te amo.
Maju, Flavia e Mariana
ÀS minhas filhas, que na última
semana me mandaram um vídeo falando que aquela era a hora de eu compensar toda
a falta que fiz nas noites que treinava até as 22h, ou os domingos que corria
enquanto devia estar brincando com elas.
E ainda, a todos que nesses dois
anos narrados, de alguma forma foram culpados por tudo isso, Lazzari, Dario e Paulo, por terem me posto
nessa.
Fernando e Cleyton por terem me
acompanhado na maior parte dos treinos pra essa prova.
João Gasparini e Studio Health,
por serem culpados por toda a evolução que venho alcançando no esporte.
Com a medalha
Camyla, Fabiola, Leo Nunes,
Cristine e Cinthia pelas fotos.
E finalmente, especialmente e
principalmente à família WBTT, esses caras nunca duvidaram de mim, alguns
deles, por momentos, acreditaram mais até do que eu mesmo. Todos de alguma
forma me ensinaram algo, me criticaram no que devia, duvidaram pra dar aquela
inticada, Pra vocês vai o único trecho da prova que ainda não contei: EU NÃO
ANDEI NEM 1 METRO SEQUER. Isso mesmo,
não caminhei em nenhum momento da prova, pois a toda hora que essa vontade
vinha, eu sabia que esses seriam os metros mais lembrados por vocês nas nossas
conversas futuras; não queria dar a vocês, esse gostinho. Obrigado
WestBikersTriathlonTeam, amo vocês como
deve-se amar uma família. URRA.
Excelente!
ResponderExcluir