domingo, 11 de outubro de 2015

Maratona Internacional de Foz - Relato por Fabio Fonseca


Meu desafio agora é falar de corrida, mas não uma corrida qualquer, uma maratona, isso mesmo, 42.195m de prova.

Há dois anos, eu havia prometido a um grupo de amigos, logo após estes completarem a maratona de Foz, que na próxima edição daquela corrida, eu estaria junto deles, já que eu competira  nos 11,5km, que também acontece junta à maratona;  ao ver a emoção deles ao cruzar a linha de chegada, mesmo os chamando de loucos, eu prometi que queria fazer parte desse grupo de incompreendidos que são os maratonistas.

Nesses 2 anos seguintes, algumas mudanças nos meus planos esportivos, virei triatleta, o que realmente toma mais tempo que treinos de corrida, mas mesmo assim, treinando e competindo provas de triathlon, a promessa não era esquecida. Por uma ajuda do destino, em 2014 a MARATONA INTERNACIONAL DE FOZ DO IGUAÇU não se realizou, e isso me deu um ano a mais para cumprir minha promessa.

Mas vamos lá: Como triatleta, agora eu já estava acostumado com volumes de treinos maiores, dias mais longos entre o primeiro  treino antes do trabalho, e o último do dia, após a luta diária; mas treinar uma só modalidade, com volumes tão grandes , seria pra mim a maior dificuldade, já que eu sabia que teria que abrir mão de outros treinos.

No dia 19/7 eu fiz meu último treino de bike, a partir daí o foco era a MARATONA, durante 2 meses, a corrida seria meu objetivo principal nos treinos, ainda segui nadando, mas com menores  volume e intensidade (eu chamava esses treinos de descanso) Aí foram trotes, tiros, regenerativos, fortalecimento, e religiosamente, os longões.


No dia 18/8, o último treino de natação antes da prova; o tempo estava se esgotando e eu também; não podia pecar pelo excesso, e como aí a ansiedade já está  tomando conta,  esses 40 dias seriam pra trabalhar a cabeça e enfiar nela de uma vez por todas, que nesse mês eu seria MARATONISTA,  e não triatleta.



O mês de agosto contou com 185km de corrida, e setembro com 145km (+42 que contarei a seguir).
Chegou  a semana da prova, alguns problemas de logística, mudanças na viagem, mas graças a Deus  e à Flavia, isso não me atrapalhou. O fato de ela  ter resolvido  esses percalços me manteve focado apenas na corrida, era só o que eu tinha que fazer: ir lá e correr.

Nó sábado,  viagem para Foz, direto para o sesc para a retirada dos kits, coisa rápida, e de lá para o hotel, onde as pernas deveriam ter um  descanso, já que na manhã seguinte o trabalho seria todo delas. A ansiedade só aumentava, resolvi  isso com um bom bate-papo entre amigos na beira da piscina, e entre umas cervejas. O jantar foi no hotel mesmo, cedo, pois às 22horas queria estar na cama, pois a alvorada seria às 4h da madruga.


Retirando kit

04:00h –  O despertador tocou, meus companheiros de quarto e eu nos levantamos e começamos a nos arrumar; eles (Cleyton e Fernando) estavam aparentemente mais calmos, pois fariam o revezamento, e apesar das fortes dores do Fernando, eles sabiam que era possível. Descemos para o café, e nos juntamos com o Dario, que também já estava pronto para a sua prova.

Às 05:00h partimos em direção à largada, com duas pequenas paradas: Uma para deixar o Fernando no local do revezamento, e outra para pegar o João que seguiria conosco.
Quem me conhece sabe que aí eu não estava mais no “meu normal”; as brincadeiras de sempre não tinham a mesma graça, elas nem partiam de mim, o que seria o mais habitual, mas enfim, cada um com seu foco, com seu objetivo.


Ao chegar no  sesc, ponto da largada, fui direto trocar de roupa e me pôr pronto para iniciar meu desafio, ainda faltava mais de meia hora, mas ainda tinha a conversa com os amigos, aquela que sempre rende algo de bom. No meio dos corredores mais experientes, parecia que só tinha um novato, eu;  parecia que ali todos já tinham feito aquilo, menos eu.  Ainda encontramos mais alguns integrantes da nossa equipe, a WBTT contava agora com o João, Marcus, Irving e eu. Nessa hora encontrei também vários amigos de Cascavel, sempre com um apoio, um desejo de boa sorte, e uma cara de espanto quando eu dizia que enfrentaria os 42km. Nessa hora entra na história o Paulo Sérgio Ferreira, encontrei   ele e a Rô esperando também pela largada.

Na largada com João Gasparini

Nessa hora um balde de confiança caiu sobre minha cabeça, Talvez pela presença do Paulo, talvez jogado pelo Diego ou pelo Matheus, ou por qualquer outro WBTT que tenha tentado me mostrar isso, e até então não tinha caído a ficha. Eu era capaz. Tudo pronto, começamos a nos dispersar, pois em categorias diferentes, largamos em posições diferentes. O Dario, o Paulo e eu, nos posicionamos mais a frente, pois como comerciários, temos o privilégio de largar logo atrás da elite. Bom né? Não.  A menos de 10m atrás largaria o pelotão principal, e certamente seríamos atropelados antes da primeira curva; já sabia disso, então era hora de começar colocar em prática todas as dicas recebidas antes da largada, mantive à esquerda, bem aberto e com ritmo constante, não deixei ninguém passar, mas também não atrapalhei quem o quisesse fazer.   Ritmo, o mais difícil de achar nesse inicio de prova, principalmente numa estreia, o que eu tinha era meta, era isso que eu tentava manter.

Nos primeiros 12km, o percurso de ida e volta entre o sesc e a entrada da usina de itaipu, tudo controlado, pace dentro do programado, foco na meta apesar de vários atletas passando com ritmo maior, umas seguradas às vezes eram necessárias. Fora do planejado, apenas a parada para um “pipi-stop”, já no km 8, a cerveja do dia anterior não queria fazer a prova comigo.  A beleza desse  trecho da prova ficou exclusivamente por conta dos atletas, era muito cedo, pouca gente nas ruas, e essas não tão bonitas após uma noite inteira de chuva.

Pelotão seguindo forte

Do km 12 ao 16, pelo centro de Foz, tudo normal,  minha tática em manter um pelotão com  Dario e Paulo ainda funcionava, para mim, essa tática era questão de sobrevivência dentro da prova. Enquanto a cidade acordava, e começavam a aparecer os torcedores pelas ruas, surge também nosso primeiro desafio, uma subida curta, porém muito forte, que acabava no km 17, consegui segurar bem o pace de subida, e o próximo km seria para recuperar, a vontade de socar a bota era grande, mas tinha muito chão pela frente e mais uma vez foi necessário segurar um pouco.
Próximo ao km 18, iniciou a subida de 2km, que foi até próximo ao ponto do revezamento, que marcou também a metade da minha prova. Nesse ponto é fácil se desligar um pouco da prova, pois tem corredores terminando seu desafio, tem clima de festa, tem caminhão de som, tem torcida, muita torcida. Mas tudo que é bom, dura pouco, a festa acaba, e o pior trecho, emocionalmente falando, começa.

Do km 21 até o  30, na rodovia das cataratas, o corpo ainda tinha muita força, mas a cabeça insiste em mostrar as dificuldades que estão por vir, e não o quão bom eu fui até aqui. Minha zona de conforto acabou somente no km 27.

No km 30, estava o Hotel Canzi, onde minha família, amigos  e eu, estávamos, estrategicamente, hospedados.  Aí  vem a explicação do porquê eu achar esse trecho tão emocional.  Ao passar pelo hotel, procurando minha torcida particular na sacada, não os vi, e isso significava que estavam na chegada; aí chorei pela primeira vez na prova, como ainda era um trecho em subida, dei uma engazopada, que me afastou um pouco do meu pelotão, mas esse fato também me trouxe forças pra buscá-los, e ainda entrar no PARQUE  NACIONAL  DO IGUAÇU  fazendo festa com o pessoal da organização, que tinha ali o maior ponto de hidratação e suplementação. Como aí fora a largada da prova dos 11,5km, era essa a distância que me separava da minha família, que agora tinha virado o objetivo principal. Eu já não correria os 42km pensando numa medalha, ou num tempo de prova pré-estabelecido, eu tinha que chegar lá por ELAS.

Dentro do parque,  durante os  6km onde estamos agora, meu objetivo maior era me manter junto ao Paulo e ao Dario, pois sabia que se perdesse o contato , perderia boa parte da força que vinha deles. Nesse trecho, por várias vezes eu disse a ele que podiam  seguir,  que eu diminuiria o ritmo, mas como numa briga de gato e rato, quando eles começavam a se afastar, eu acelerava e alcançava. Várias  vezes  foi assim, até fui acusado de “atacar” em uma das subidas, quando passei pelo pelotão e puxei a fila por alguns instantes.

No km 33.1, chorei de novo, como aí já estava chovendo, daria pra disfarçar bem não fossem os soluços. Esse choro também tinha motivo, em todos os meses de treinamento, essa tinha sido minha maior distância percorrida num longão, estava sendo quebrado mais um recorde pessoal.  A vá galera, é motivo suficiente né?

No km 40, mais um choro, curto; parecia que meu lado emocional já estava comemorando o dever cumprido, mas o racional engolia o choro e gritava: AINDA FALTAM   2KM.  Aí   o famoso hotel das cataratas,  limpa os olhos , procura por um fotógrafo conhecido (Leia-se Fabíola Bogo) e faz aquela cara de que está tudo bem, afinal, essa foto não poderia ficar feia.

Fazendo pose em foto de cartão postal

A partir do km 41, chega  de choros curtos, afinal eu sou MARATONISTA.  Aí   foram 1.195m de choro, ou 6 intermináveis minutos, onde passou um filme na minha cabeça, Os 2 anos da promessa, dos meses de preparação que me levaram a esse momento, e  também dos últimos 42km corridos, onde encontrei atletas de todo jeito:  os que passaram por mim e me incentivaram, os que eu passei e tentei incentivar, os que em algum momento da prova caminhavam, por lesão ou por cansaço, ou por ser uma subida forte. E principalmente aqueles atletas que não passei, nem me passaram, Dario e Paulo. Foram 42km dividindo o mesmo espaço, a mesma água, o mesmo sal.

Pelotão no 42

Enfim avisto o pórtico de chegada,  mas como disse antes, não era ele que eu procurava, eu procurava pessoas, e estavam ali, escondidas entre os cones,  nessa hora eu só não comecei a chorar novamente, pois eu ainda estava chorando desde o  41, lembram? Mas o choro aumentou bastante ao ver a Flávia, segurando, mas já soltando a Maju e a Mariana, com seus tênis de TRIATLETAS,  para o trecho da prova que realmente valeu a pena ter corrido.

Eu e as meninas correndo em direção à chegada

Foram os metros finais mais emocionantes de qualquer prova que eu já tenha corrido,  foi o único momento da prova em que me separei do meu pelotão, não saí na mesma foto que eles, mas devo muito dessa conquista a eles também. Após cruzar a linha de chegada, a primeira coisa que a Mariana fez, foi olhar pra trás, ver que tinha muita gente ainda chegando e dizer: “GANHAMOS EM PRIMEIRO”.  Alguém duvida?  Só ganhei nessa prova.

Resultado:  3h42’45”

 Eu após a chegada

   Maju, eu e Mariana na chegada

Agradecimentos:  Primeiro a Deus, por me permitir fazer o que gosto: nadar, pedalar, correr e correr uma maratona.
Segundo, à Flávia, por me permitir fazer o que gosto: nadar, pedalar, correr e correr uma maratona. E além de permitir, apoiar, incentivar e até correr junto. Obrigado. Eu te amo.

Maju, Flavia e Mariana

ÀS minhas filhas, que na última semana me mandaram um vídeo falando que aquela era a hora de eu compensar toda a falta que fiz nas noites que treinava até as 22h, ou os domingos que corria enquanto devia estar brincando com elas.
E ainda, a todos que nesses dois anos narrados, de alguma forma foram culpados por tudo isso,  Lazzari, Dario e Paulo, por terem me posto nessa.
Fernando e Cleyton por terem me acompanhado na maior parte dos treinos pra essa prova.
João Gasparini e Studio Health, por serem culpados por toda a evolução que venho alcançando no esporte.

Com a medalha

Camyla, Fabiola, Leo Nunes, Cristine e Cinthia pelas fotos.
E finalmente, especialmente e principalmente à família WBTT, esses caras nunca duvidaram de mim, alguns deles, por momentos, acreditaram mais até do que eu mesmo. Todos de alguma forma me ensinaram algo, me criticaram no que devia, duvidaram pra dar aquela inticada, Pra vocês vai o único trecho da prova que ainda não contei: EU NÃO ANDEI NEM 1 METRO SEQUER.  Isso mesmo, não caminhei em nenhum momento da prova, pois a toda hora que essa vontade vinha, eu sabia que esses seriam os metros mais lembrados por vocês nas nossas conversas futuras; não queria dar a vocês, esse gostinho. Obrigado WestBikersTriathlonTeam,  amo vocês como deve-se amar uma família. URRA.



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