Hoje quero falar sobre pace.
Pace é uma palavra em inglês que pode significar, entre
outras coisas, ritmo, velocidade, passo, andamento. Quando comecei a treinar
corrida, em meados de 2010, deparei-me com essa palavra em todos os sites ou
revistas que eu lia. No início me causou estranhamento e até me pareceu
babaquice utilizar um termo em inglês para uma palavra que eu poderia usar
tranquilamente em português. Depois de um tempo, comecei a me acostumar e
percebi que usar o termo pace, coloca o atleta numa determinada tribo, pois só
usa o termo pace aqueles corredores com um certo grau de experiência no
esporte. Um corredor de fim de semana não usa o termo pace. Mas eu continuava
achando babaquice. Com o passar dos anos eu percebi que a aplicação do termo pace é inevitável,
pois quem corre sabe que não dá para usar o termo velocidade na hora de falar
sobre como está correndo, não funciona. Ninguém corre a uma velocidade de 5
min/km, é estranho. Ritmo seria o mais indicado. Só que aí você cai na piscina
e novamente se encontra numa situação difícil, principalmente porque geralmente
não se usa ritmo. Por isso, uso pace, e me sinto confortável com isso.




O problema dos relógios e gadgets para monitoramento do
ritmo é que você fica muito engessado quando se treina muito com eles a ponto
de, se eu treinar sem relógio, não faço a menor ideia do ritmo que estou
colocando no treino. Isso mesmo, ausência completa de conhecimento da
fisiologia corporal. Outro dia fui correr no lago, uma voltinha, sem
compromisso, fora da planilha e nem levei relógio. Quando terminei o treino,
não fazia a menor ideia de como tinha sido, não conseguia avaliar a
intensidade, nem o tempo, nem a sensação de esforço, nem a sede, nem o suor:
Caramba! Eu acho fundamental para um atleta que pensa em praticar esportes de
endurance a vida toda, a noção e o autoconhecimento corporal; não adianta ler
dezenas de livros sobre esportes, estudar fisiologia do exercício, escrever em
um blog de triathlon com os amigos, se quando dá uma voltinha no lago não faz a
menor ideia de como foi o treino. Até uma criança de 10 anos sabe dizer se após
uma corrida ela ficou cansada ou não, se correu forte ou não; e o tonto aqui
não consegue.
Solução: jogar todos os relógios fora?
Não, claro que não. Depois de pensar muito sobre isso, ontem
decidi começar a fazer algo diferente. Meu treino era 10km, em um ritmo entre
5:15 – 5:20, com pouca variação metabólica e pouca variação de altimetria. Pois
bem, armado do meu 910xt, fui ao lago para as duas voltas e meia. Só que não
ficava olhando para o monitor do relógio a cada 100m (como normalmente faço),
eu comecei a olhar o ritmo uma vez a cada 1km (porque como sou perdidão, se
estivesse no ritmo errado poderia ferrar o treino), tentando sentir como estava
meu corpo, minha respiração, minha saliva, e tentei “segurar” da forma que era
possível o ritmo proposto. Comecei mais lento para aquecer e a partir do km 3
iniciei o controle obsessivo do ritmo, porém sem olhar no relógio com a mesma frequência
com que estou acostumado. E não é que se certa forma eu obtive êxito? Em
determinado momento a minha concentração era tão grande que estava em uma
espécie de transe e percebi que estava segurando a carcaça com o poder da
mente. Impressionante. Abaixo os dados do meu GPS (não medi a frequência
cardíaca, mas deveria ter feito).
Sempre disse e reitero, todos os bons corredores que eu
conheci e convivi, tinham uma inteligência corporal acima da média. Sabiam
exatamente como o corpo se comportava e respondia a cada situação e imprevisto.
Depois do treino de ontem, percebi que não sou totalmente desprovido de
inteligência corporal, só que ela está atrofiada, precisa ser desenvolvida e
praticada. Como jogar xadrez. Talvez eu não chegue ao nível do Tutta de Ubiratã
(que um dia fui treinar com ele e pedi para segurar o pace em 4:30 e o cara
passava cada km em 4:30, 4:31... e em determinado momento que ficou mais lento
ele virou para mim e disse, acho que estamos em 4:40 e estávamos. O cara é um
Jedi! ), mas penso em pelo menos terminar um treino sabendo se foi forte ou
não. Isso vai me ajudar no futuro a prever uma lesão ou dar um tempo quando
estiver em overtraining, o que não consigo identificar atualmente.
O pace é importante, manter o ritmo de treinos, na
velocidade como as coisas mudam na nossa vida, é uma passo muito importante
para vivermos com mais saúde e mais felicidade. O triathlon também é assim. O que
importa não é o quanto vivenciamos as coisas, mas sim como que isso é percebido
por nós. Como uma fotografia de um belo e inspirador amanhecer no lago, que
inspira e reforma, esculpindo em nós a vontade indelével de viver intensamente.
E você, vai treinar para quanto?
Não sei exatamente como isso aconteceu, mas, hoje, sei mais ou menos como está o meu pace quando corro. Corro com GPS, mas não o olho enquanto corro, e quando faço treino de ritmo, minha variação fica em, no máximo, 10 segundos por km. Acho que o GPS é uma grande ferramenta, mas não devemos ficar presos a ela.
ResponderExcluirGostei de saber que você escreve um blog Matheus. Fiquei sabendo graças a Márcia Fontanella e agradeço imensamente por ter citado este humilde corredor amador no texto acima.
ResponderExcluirGrande abraço e sucesso pra você.
tutta-Baleias/PR
www.correndocorridas.blogspot.com.br